Luiz Gustavo Mocellin Mafaciolli
O pratrimônio cultural de
um povo não está somente ligado e restrito a obras confinadas em seus museus,
está muito além disso, está ligado a tudo que compõe o espaço urbano a nossa
volta e a tudo que nos apropriamos como espaço de vivências em nossa cidade.
Considerando a vasta malha
urbana que nos cerca e nos alimenta com suas diversas culturas e valores, surgem intervenções que têm como objetivo
valorizar, chamar a atenção para um local ou algo, ou até mesmo resgatar ou
restaurar essências por vezes, infelizmente esquecidas.
O Coletivo à Deriva, formado
pelos membros do grupo de pesquisa Artes Híbridas e, comandado pela professora
Maria Thereza Azevedo, é um grupo cuiabano que realiza e promove tais
intervenções transformando a vista de uma janela em algo maior, que se possa
passar, ter uma experiência, uma vivência, uma lembrança, algo que podemos
abrir, ver, e voltar, transitar quando quisermos e bem entendermos. A janela é
assim, transformada em porta, uma porta sem trancas e amarrações.
Nas cidades, os monumentos
são os marcos do lugar, são história, e as histórias não podem ser simplesmente
esquecidas e deixadas de lado, história é cultura.
O Parque do Morro da Luz,
em Cuiabá é um parque urbano que foi inaugurado em 22 de maio de 1925. Já foi
muito bonito, cuidado e valorizado como um dos cartões postais da cidade de
Cuiabá. No entanto, com a modernização e descaso da população e do Governo, o
parque aos poucos foi perdendo seu encanto, sua Luz. E hoje apesar de suas
árvores centenárias ainda contarem
muitas histórias, contam para poucos que ainda as visitam.
Considerando isso, no dia dia 20 de maio de
2014 foi realizada a intervenção urbana denominada “Morro de Luz” no parque
Morro da Luz , organizada pelos alunos da disciplina de mestrado de Poéticas
Contemporâneas da Universidade Federal de Mato Grosso, juntamente com o
Coletivo à Deriva. Tal intervenção, surgiu da discussão em sala de aula sobre
locais de nossa cidade que precisariam de uma maior atenção e cuidado.
A intervenção do Morro não
se deu somente pelas pessoas que estavam lá no dia do ato, ela começou muito
antes por um conglomerado de parceiros e adeptos ao movimento. Para promover o
evento, utilizamos do “boca a boca” e das ferramentas disponibiizadas pelas
redes sociais – grandes aliadas aos movimentos das intervenções urbanas –
Arantes afirma que “o crescente uso de formas operacionais de comunidades
da rede (...) são importantes estratégias de democratização, de compartilhamento,
de acesso e de troca de informações” (ARANTES, 2010, p. 04).
Como poderia um parque
denominado de Morro da Luz, não possuir sequer um respaldo de luz?
Hoje, as intervenções
buscam transformar as cidades e as pessoas que delas desfrutam. Elas têm
configurado grandes estímulos populares sobre os elementos urbanos públicos e
culturais. Buscamos aqui “desconstruir” o imaginário a respeito do local Morro
da Luz e sugerir novas apreensões sobre o espaço e seus usuários, além de
ocupar o que de tempos, é nosso. A aproximação da população proporciona
aprendizado e o aprendizado proporciona mais cultura e, quanto mais cultura,
melhor.
Para Brunet (2008), a
colaboração nas práticas de intervenção urbana funciona como uma forma de
experimentação do espaço público, com o objetivo de fazer com que o
participante se sinta parte deste espaço e que nele construa algo.
A intervenção “Morro de
Luz”, apesar de singela e simples, proporcionou luz ao local e, não somente ao
local, proporcionou luz ao olho de quem viu, e ouviu falar do movimento. É
incrível como de uma porta, surgem várias outras.
Buscamos em Ferrara (1986)
o entendimento sobre o uso do espaço. Para a autora, a arquitetura e o
urbanismo produzem lugares e o “uso é um modificador do espaço urbano” (Ferrara
1986, p.186).
Após a realização da
intervenção, olhares cuibanos se voltaram ao Morro, muito se disse, muito se
especulou a respeito do feito, e o local que antes não havia luz, aquele local
contraditório e tido como perigoso, hoje possui policiamento e iluminação. Uma
janela, várias portas, várias lanternas, uma só luz. Parabéns a todos pela
iniciativa.
ARANTES, Priscilla. Impacto
dos Weblogs: Geopolítica, Compartilhamento e Filosofia Open Source. In: NP 08 – Tecnologias da Informação
e da Comunicação do V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. 2005.
BRUNET,
Karla Schuch, Comunicação e Espaço
Público. Mídia locativa, práticas artísticas de intervenção urbana e
colaboração: 2008
CALDEIRA, Solange Pimentel. O lamento da Imperatriz:
A Linguagem em Trânsito e o Espaço Urbano em Pina Bausch. São
Paulo: Annablume, 2009.
FERRARA,
Lucrécia D’Alessio, A Estratégia dos
Signos. Perspectiva. São Paulo:1986.
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